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  • Foto do escritorIsabel As Well

Natal vs Chuseok


É impossível referir "Outono" sem pensar, com carinho, em todos os momentos que tanto caracterizam esta estação, em parte amada por todos. A descida das temperaturas e a mudança das folhas não nos impedem de aproveitar o conforto que esta estação, presa entre o sol de verão e o frio invernal, tanto nos parece mostrar. Dessa forma, são inúmeros os países que selecionaram formas únicas de celebrar a passagem do outono, desde os primórdios históricos, que pretendiam ser um símbolo de abundância, renovação e gratidão.


Em Portugal, país com notórias raízes romano-católicas, assinala-se esta época com a celebração de São Martinho, onde o país celebra as suas tradições e costumes com magustos, castanhas assadas e degustação do novo vinho.


Porém, estas tradições milenares que honram a passagem das estações, não existem apenas na Europa. Entre o famoso "Thanksgiving" nos Estados Unidos ou o "Dia de los Muertos" no México observamos formas únicas de honrar os nossos antepassados e honrarmos o presente.


Na Ásia, e especificamente na península coreana, estas tradições não são exceção. O Chuseok, festival regido pelo calendário lunar, assinala anualmente a época das colheitas, numa data que coincide com o Equinócio de Outono. Apesar das raízes da celebração não serem claras, os primeiros registos datam de há centenas de anos, com esta época a ser continuamente assinalada pelos coreanos, com a visita a familiares em cidades do interior, com comida tradicional e visita a locais de enterro de antepassados.




Kim Min Kyu está de férias, por causa do Chuseok. O jovem coreano, que como muitos outros, usa o Chuseok como forma de descansar do stress da universidade e de se encontrar com família que de outra forma nunca veria, comenta "Esta é a única altura em que posso visitar a minha família alargada e encontrar-me com avós, primos... Eles vivem todos longe mas o Chuseok dá-nos uma forma de apreciarmos momentos e comida deliciosa juntos".


Min Kyu faz parte de uma nova geração que, admite o próprio, nem sempre dá a importância devida a tradições. "Enquanto a minha avó estava viva eu passava momentos maravilhosos com ela. Tenho imensas memórias de ser criança e de tentar roubar a comida que ela estava a preparar para o Chuseok. Acabava sempre com a língua queimada, pela comida acabada de fazer, e a minha mãe ficava muito zangada porque a comida era para a mesa das orações (em honra dos antepassados)”. O jovem sorri enquanto me assegura que são memórias que guarda com muito carinho. No futuro, espera também ele passar estas tradições para os seus filhos.


Todos os anos os comboios coreanos enchem-se durante este período, com milhares de pessoas a viajar pelo país para se encontrarem com família ou para visitarem locais de enterro de antepassados. Este ano, com o surto de COVID 19, as regras foram alteradas, com um controlo restrito a garantir apenas metade da ocupação normal dos comboios, com uma pessoa por cada 2 lugares.


Min Kyu, que também ele testemunhou em primeira mão essas alterações, faz notar que "muitas famílias este ano preferiram celebrar o Chuseok à distância, com uso a videochamadas". Uma das componentes essenciais da época, que visa juntar as gerações mais velhas e novas da família, apresenta um perigo especial para a população envelhecida.


O jovem sul-coreano fala-nos também do lado mais caricato da época, onde como em qualquer outra celebração familiar, se falam dos tios e tias a interrogar impiedosamente os jovens com questões como "Para que universidade vais?" ou "Quando te casas?". Ao lembrar-se deste tipo de questões sorri, parecendo assegurar que não as leva tão a peito como seria de esperar. "No final de contas, mesmo com o stress e pressão, o Chuseok é uma ocasião para celebrar a família, e não o trocava por nada".


Em Portugal não existe um Chuseok. Aliás, agora que os ventos invernosos e a chuva e o frio fazem parte do dia-a-dia no país, a única celebração que se avizinha, curiosa e expectante, é o Natal.





O Natal, coincidente com o Solstício de Inverno, tem uma importância decididamente vincada na Europa, tanto por razões culturais como religiosas. É um marco no ano, aquele dia para o qual tudo se prepara com antecedência, e para o qual existia um medo coletivo que o vírus fosse arruinar.


Porém, na Coreia do Sul, onde apenas uma pequena parte da população é cristã, esta celebração não tem o mesmo impacto que em tantos outros países ocidentais.


Lee Jinwoo tem 25 anos e saiu agora da Universidade. Enquanto jovem coreano que tem uma namorada fala-nos do papel do Natal neste país, onde quase se assemelha a um Dia dos Namorados.


“Normalmente no dia 25 saio com a minha namorada e vamos a um café ou até ao cinema. Às vezes trocamos presentes ou postais mas o importante é estarmos juntos. Nunca foi de todo uma celebração familiar para mim e quando estava solteiro o Natal era um dia igual aos outros”.


Muitos jovens coreanos se revêm nas palavras de Lee Jinwoo. Apesar das ruas de Seul ficarem iluminadas com luzes de Natal, se verem árvores brilhantes, superfícies refletidas em verde e vermelho, e se ouvirem cânticos de Natal, a verdade é que esta época é quase exclusivamente para casais mais jovens.


Em países com tradições e culturas tão díspares não é possível deixar de notar que, mesmo em épocas diferentes, ambos celebram a família, os amigos, a mudança das estações e, muitas vezes, a religião. Em locais tão opostos são, muitas vezes, estas celebrações que nos aproximam e nos ajudam a manter o contacto, com ou sem pandemia.



Artigo escrito por: Ana Isabel (Isabel as Well)


(As Imagens de ilustração a este artigo foram retiradas do: freepik, pixabay e google imagens.)

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