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Chamem-me pelo meu nome: Dokdo

Atualizado: 1 de set. de 2021

Ilhas Desertas. Com certeza que este nome não é estranho aos portugueses, como parte integrante do arquipélago da Madeira. Apesar de serem apenas formações rochosas, aumentam a nossa Zona Económica Exclusiva, e são por isso alvo de controvérsia com a nossa vizinha Espanha.


A 11,587 km de distância das Ilhas Desertas, na costa leste da Coreia do Sul há também uma formação constituída por várias ilhotas, de seu nome Dokdo. Com uma área de 187,554km², Dokdo é um dos assuntos sensíveis que tem dificultado as relações bilaterais entre a Coreia e o Japão.


Dokdo surge pela primeira vez nos registos históricos coreanos “Samguk Sagi” (História dos Três Reinos). Nesta compilação publicada em 1145, é relatado que o General Isabu conquistou Usanguk ao 13º ano do reinado do Rei Jijeung de Silla (512 DC), e os historiadores coreanos acreditam que Usanguk se refere a Ulleungdo e Dokdo. Referências subsequentes sobre Dokdo podem ser encontradas nos Anais da Dinastia Joseon, uma valiosa herança histórica na Coreia.



Nos Anais do Rei Taejong, pode ler-se que a ilha contava 86 residentes, posteriormente enviados para o continente em 1417. Usando (Ilha Usan) é também mencionada durante o reinado do rei Sejong em 1432. O governo coreano defende que Usando é o nome dado na época a Dokdo, enquanto o Japão, que disputa este território com a Coreia, interpreta os documentos de forma diferente, argumentando que os registos dos Anais da Dinastia Joseon são limitados a Ulleungdo, não incluindo Dokdo. Dokdo aparece posteriormente nos registros históricos japoneses em meados do século XVII.


Recentemente, um mapa exibido em Espanha, mostra Dokdo como parte integrante do território coreano. O geógrafo francês Jean-Baptiste Bourguigno d'Anville, que em 1737 criou um atlas do Império Qin (China), identificou Dokdo e Ulleungdo como parte do Reino Joseon (Coreia), no mapa que denominou "Reino da Coreia". Na mais recente visita de estado a Espanha, o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, teve a oportunidade de observar o mapa, que vem reforçar a posição do governo coreano quanto à soberania da ilha.


À medida que mais provas surgem, é cada vez mais claro que Dokdo faz parte do território coreano e, embora a Coreia tenha controlo sobre o território, o Japão continua a desafiar a sua soberania. Atualmente, a única forma de entrar em Dokdo é por barco, a partir da ilha Ulleungdo. Esta é também a única forma de entrada para os japoneses, visto que é a Coreia quem exerce controlo efetivo sobre as ilhas.



Nas Olimpíadas de Pyeongchang 2018, a Coreia do Sul e a Coreia do Norte entraram juntas no estádio envergando uma bandeira pela paz, representante da Península Coreana. Nessa bandeira, a ilha Dokdo não estava incluída. O governo japonês protestou contra a bandeira junto do COI. Perante tais protestos, o COI recomendou que Dokdo fosse removida, alegando que assuntos políticos não devem fazer parte da competição desportiva. Consequentemente, as Coreias decidiram remover Dokdo da bandeira da Península Coreana.


Três anos depois, o Japão marcou Dokdo como parte do seu território no website do Comité Organizador dos Jogos Olímpico de Tóquio 2021. No entanto, o site nunca foi modificado, mesmo depois dos protestos do governo coreano.


Muitos dos leitores deste artigo talvez considerem Dokdo como território japonês, já que o Japão emergiu como terceira maior economia mundial e tem uma influência cultural considerável. O Japão colonizou a Coreia de 1910 a 1945. E embora sejam contabilizados 70 anos desde a independência após a Segunda Guerra Mundial, os coreanos não esqueceram o sofrimento da era colonial. Isso ocorre porque o Japão nunca demonstrou qualquer reflexão sicnera sobre os acontecimentos passados. Os coreanos entendem a reivindicação de Dokdo pelos japoneses como uma extensão do domínio colonial do passado. Contudo, a influência da Coreia tem vindo a aumentar. O K-Pop e a onda Hallyu têm conquistado cada vez mais fãs, e o país tem visto o seu poder aumentar a cada dia.



Espero que, por meio deste artigo, os leitores sintam curiosade e sejam capazes de entender adequadamente os argumentos da Coreia do Sul e do Japão, por forma a apoiar Dokdo nesta batalha que dura há anos.


Em vários mapas, Dokdo pode ser encontrado por três nomes: Dokdo, Takeshima e Liancourt Rocks. Se pesquisar por Dokdo no mapa (Google Maps), provavelmente encontrará a ilha como Liancourt Rocks (Rochas Liancourt). Este é o nome neutro usado pelos países que não apoiam a posição da Coreia ou Japão. E, tal como nós, portugueses, defendemos o nosso território, os coreanos têm lutado pelo território que foi roubado desde o domínio colonial. É hora de reconhecer que Dokdo é território coreano e denominar a ilha com o nome correto.



Ter a oportunidade de visitar a Dokdo, através do programa 2021 Global Dokdo Reporter, foi uma experiência inesquecível. Visitar Dokdo é uma oportunidade muito rara que a maioria dos meus amigos coreanos nunca teve. Senti um certo orgulho, mas ao mesmo tempo responsalibidade. Como repórter voluntária da Embaixada da Coreia em Portugal, tenho partilhado conteúdo cultural e histórico com os portugueses. Mais do que K-Pop e dramas coreanos, a Coreia do Sul tem uma história incrível de luta contra todas as adversidades. E da mesma forma que apoiamos os ídolos e a cultura, está na hora de apoiar também a luta por Dokdo, mesmo que estejamos a mais de 10.000 quilómetros de distância.





Este artigo foi o vencedor da edição de 2021 Global Dokdo Reporter, organizada pelo foverno da província de Gyeongsangbuk-do e pelo jornal Naeil Shinmun.


Autoria de: Andreia Carvalho

Fotografia de: Andreia Carvalho


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