Ainda com cicatrizes resultantes da primeira Guerra mundial e sob o jugo japonês, a Coreia do século vinte desenvolvia-se lentamente e com pouco espaço a manifestações culturais. Com a chegada da década de 50 e consequentemente com o início da guerra que opôs o Norte contra a Sul, o país acaba por mergulhar num profundo lago de agitações económicas, políticas e sociais.
Contudo, outrora um dos países mais pobres e subdesenvolvidos do mundo opera toda uma mudança no seu futuro através do investimento na educação e progresso cultural.
A segunda década do século XXI traz-nos mudanças fundamentais na forma como os jovens interagem com a cultura pop estrangeira. Ferramentas como o Instagram e YouTube permitem-nos ter acesso a qualquer conteúdo, em qualquer parte do mundo. Assim, apesar de desde sempre os Estados Unidos e Inglaterra manterem um punho de ferro sobre a indústria musical mainstream, filmes ou séries, recentemente, surgiu uma nova onda de poder vinda da Ásia, nomeadamente da China, Japão e Coreia do Sul.
Quebrando as barreiras rotineiras do que achamos ser entretenimento somos confrontados com séries asiáticas, animes e kpop. Este último fenómeno musical que tem cativado massas fora da coreia tornou-se já popular até mesmo em Portugal.
No entanto, esta quebra de barreiras também possibilita que exista uma troca do lado contrário, e Portugal está cada vez mais repleto de turistas coreanos e, especialmente, de alunos coreanos, que trazem a sua cultura para o nosso país e influenciam e inspiram novas gerações.
Até antes da pandemia, Portugal possuia cerca de 34 mil alunos estrangeiros, matriculados nas suas universidades, pelo país. Os números, que batem recordes todos os anos, terão tendência a continuarem a subir, visto que são benéficos para o nosso país e para os alunos de intercâmbio que mostram o seu agrado para com as áreas.
Foi através da parceria entre a Universidade Fernando pessoa, no Porto, e a Handong Global Universirty, em Pohang, que KyuEun conseguiu concretizar o sonho de passar um semestre longe de casa e estudar na europa, onde a realidade cultural não se podia ter apresentado mais diferente e oposta.
Apesar de ter vivido no estrangeiro anteriormente, este foi o seu primeiro contato com Portugal. “É tudo tão diferente mas estou completamente apaixonada”. Tão apaixonada que já alterou a sua passagem aérea, e ficará aqui por mais um semestre. A doçura calma do Porto cativou a jovem estudante de Relações Internacionais, que constata que a cidade invicta não poderia ser mais díspar da vibrante, porém stressante, Seul. “Na Coreia temos uma espécie de obsessão por fazer tudo rápido, o mais rápido possível! É tão raro encontrar um tempo em que possa simplesmente relaxar com um livro, enquanto ouço música”.
“O meu dia era todo passado a estudar, de manhã à noite. Às vezes deixava de comer ou dormir só para poder garantir as minhas notas. Não é que aqui as coisas sejam mais fáceis, mas sem dúvida que os professores sabem manter um equilíbrio na altura de nos exigirem trabalhos e testes”.
Kyun Hyun concorda. Desde que veio para Portugal, em Janeiro deste ano, que já se habituou aos novos métodos de ensino, onde a sua participação e envolvimento nas aulas é necessária. A estudar relações internacionais, este aluno, sempre considerou que a vida no estrangeiro seria, sem dúvida, a melhor maneira de o preparar para uma nova realidade. “A minha vida na Coreia era tão aborrecida… Acho que acabei por me deixar ficar demasiado confortável nela”.
Jeongin Park concorda, adicionando porém a falta que sente do seu país de origem, onde não tinha uma barreira linguística tão acentuada. “Tenho-me esforçado muito para aprender português mas é tão difícil!”. Apesar da mudança dramática de ambiente a aluna é apaixonada pelo país, pela gastronomia local e pela simpatia das pessoas na rua. Com entusiasmo acrescenta “quando às vezes estou no supermercado e não percebo alguma palavra há sempre alguém que me tenta ajudar”.
A cultura coreana está ainda subtilmente presente em Portugal, desde objetos de arte em museus e exposições culturais, até um simples menu, num restaurante escondido por entre as ruas do Porto, à espera de ser descoberto por portugueses que se desejam aventurar um pouquinho mais na Coreia do Sul.
- Ana Isabel (Isabel as Well)